Espasticidade Muscular

Karina Kakiuchi Trajano*


A espasticidade é, associada a outros sintomas, um dos principais acometimentos entre doenças neuromusculares do neurônio motor superior. É uma alteração do estado basal da contração muscular, representada por um aumento do tônus muscular, ou seja, pela rigidez do músculo. Resulta em limitações importantes para os pacientes, que podem levar ao encurtamento dos músculos, ao posicionamento vicioso das articulações e a contraturas e dores.

Pode acometer partes do corpo ou todos os músculos de um paciente, como os pés, as mãos, os braços, as pernas, os cotovelos, os punhos e os dedos. Sua intensidade varia de uma leve rigidez até contraturas mais graves, que chegam a deformidades severas.

 

A espasticidade pode ser classificada pela Escala de Ashworth Modificada.

Escala de Ashworth Modificada

Grau Observação clínica
0 Tônus normal
1 Aumento do tônus no início ou no final do arco de movimento
1+ Aumento do tônus em menos da metade do arco de movimento, manifestado por pressão abrupta e seguido por resistência mínima
2 Aumento do tônus em mais da metade do arco de movimento
3 Partes em flexão ou extensão e movidos com dificuldade
4 Partes rígidas em flexão ou extensão

 

Outra maneira de avaliar a espasticidade é pela Escala de Espasmos Musculares.

 

Escala de Espasmos Musculares

Pontuação Frequência dos espasmos
0 Sem espasmos
1 1 ou menos espasmos
2 Entre 1 e 5 espasmos
3 Entre 5 e 9 espasmos
4 10 ou mais espasmos

 

Entre os fatores que agravam a espasticidade estão:

 

– posicionamento inadequado dos membros por longos períodos;

– roupas apertadas;

– uso inadequado das órteses ou órteses mal adaptadas;

– exposição ao frio;

– lesões da pele por pressão;

– retenção da urina e das fezes.

 

Como benefícios do tratamento contra a espasticidade destacam-se:

 

– redução da necessidade de medicações para dores;

– redução das dores;

– redução da frequência dos espasmos;

– melhora da capacidade funcional;

– prevenção de contraturas e deformidades;

– melhora do conforto do paciente, consequentemente, da qualidade de vida.

 

 As principais complicações da espasticidade são:

– atrofia muscular (perda do volume muscular);

– contratura (limitação da articulação);

– aumento do gasto energético;

– dores;

– deformidades;

– redução da capacidade de usar os membros;

– dificuldades nas atividades de vida diária (alimentação, locomoção, higiene pessoal, transferências).

 

Tratamento

Sempre que possível, o tratamento deve fazer parte de um programa individual de reabilitação.

 

  1. Uso de dispositivos (órteses): utilizadas para manter o posicionamento adequado do membro, evitar posição viciosa e prevenir complicações;

 

  1. Fisioterapia: o ideal é um programa individualizado com várias técnicas, como a Estimulação Elétrica Terapêutica (EET), a Estimulação Elétrica Funcional (EEF) e a Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (Enet);

 

  1. Alongamento: tem o objetivo de adequar o tônus muscular para manter ou aumentar a extensibilidade dos tecidos moles, de reduzir a dor e de manter a função. É um tratamento a longo prazo que, se possível, deve ser realizado diariamente;

 

  1. Massagem: mellhora a mobilidade dos tecidos, reduz a inflamação e, consequentemente, relaxa e diminui a dor;

 

  1. Método Bohath: esse método é baseado na neuroplasticidade. Utiliza a normalização e adequação do tônus, a reeducação do movimento por meio de manobras em pontos-chave específicos, que auxiliam no desenvolvimento do movimento desejado;

 

  1. Facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP): é uma técnica baseada nos mecanismos neurofisiológicos que envolvem o reflexo de estiramento muscular;

 

  1. Técnicas de Biofeedback: é uma técnologia que utiliza sensores para medir a atividade elétrica do músculo, de forma lúdica;

 

  1. Hidroterapia: a viscosidade, o empuxo, a pressão hidrostática, a temperatura da água, bem como os manuseios e os exercícios fisioterápicos auxiliam no relaxamento do tônus muscular, no ganho de amplitude de movimentos, na postura, na força muscular e na coordenação motora;

 

  1. Crioterapia e Termoterapia: a crioterapia diminui a atividade do fuso muscular e aumenta seu limiar de disparo. A neurotransmissão dos impulsos aferentes e eferentes é reduzida, assim como a velocidade de condução nervosa e da transmissão neuromuscular, diminuindo a espasticidade. A termoterapia auxilia no relaxamento muscular e na analgesia por diminuir o limiar de disparo dos eferentes gama. Com isto, reduz-se a excitabilidade dos fusos musculares e aumenta-se a atividade dos órgãos tendinosos de golgi.

 

  1. Equoterapia: com o auxílio do cavalo, esse tratamento ajuda no desenvolvimento motor, emocional e social. Os movimentos do cavalo atuam diretamente no cérebro do paciente, refletindo, consequentemente, na sua postura. Assim, temos, entre outros benefícios, a melhora do tônus muscular e da coordenação motora, além da conscientização corporal e do aumento da força muscular.

 

* A autora é fisioterapeuta, especialista em Terapia Intensiva e Respiratória e mestra em Ciências da Saúde pela Unifesp. Atualmente, é pesquisadora do Ambulatório de Imunologia, Alergia e Neurologia da Unifesp.

 


Referência

Gelber, DA. Approach to the management of generalized spasticity. Boston: American Academy of Neurology 1997.

Hess. D, Nishiwaki. J, Libertori. M.F., Eichinger. F. Modalidades de tratamento da espasticidade: uma revisão da literatura. Cad. Edu. E Fisioterapia. V4, n 7, Joinville, SC. 2017.

Jozefczyk PB. Approach to the management of focal spasticity. Boston: American Academy of Neurology 1997.

Teive. H.A G, Zonta. M, Kumagai. Y. Tratamento da Espasticidade. Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.56 n.4 São Paulo Dec. 1998.

Recomendações de Tratamento Integral da Espasticidade em Adultos. Consenso Latino-Americano de Especialistas, 2ª edição, 2011.